sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Primeiro Vôo










Nunca vou esquecer a sensação quando entrei em um avião pela primeira vez, apenas uma palavra me passava pela cabeça: merda!!! Em uma fração de segundo todas as estatísticas do transporte mais seguro do mundo, todas as leis da física cuidadosamente estudadas se foram, assim que adentrei na aeronave a “idéia” de avião foi substituída pela inexorável presença de um ônibus alado cujo o interior colocaram cadeiras demais.
Por um momento todos os acidentes de avião se tornaram totalmente plausíveis, eram até óbvios. Eu não estava abordo daqueles imponentes senhores do céu que eu via em terra, deixando um rastro branco na abóbada safira, naquele momento a idéia de Ícaro de pegar um punhado de cera e colar meia dúzia de penas me parecia muito mais racional que a maldita idéia de alar uma lata de sardinhas e enfiar 300 almas bem alimentadas de amendoins e suco com soja.
Detesto admitir, mas um suor frio percorria meu corpo e uma voz na minha cabeça bradava com toda força “corre, sai daí agora!”. Dirigi-me até meu lugar, maldito corredor, longe demais da janela... Se se vai morrer, pelo menos gostaria de ter uma boa vista de tudo.
Quando a porta se fechou e o avião se moveu para trás foram os momentos mais tensos que consigo me lembrar, o coração batia aceleradíssimo, as mãos suando um desespero inominável nublando todos os meus pensamentos enquanto aquela baleia branca de metal dava uma ré que parecia mais lenta e mais capenga que qualquer fusca 66.
Após taxiar na pista a nave parou, inerte sob o poente ela respirava fundo, exalando monóxido de seus poderosos pulmões de aço, e dentro dela estava eu, que a essa altura já pensava nas mulheres que não tive, nos socos que não dei. E ponderava quanto tempo de cadeia eu pegaria se gritasse que estava com uma bomba. As aeromoças ensinavam a atar o sinto e que deveríamos sair pelas saídas de emergência e que nosso acento flutuava, claro, se você desce no oceano em uma bola de fogo a 500km/h, pelos 0,000003 segundos que você permanece vivo deve ser reconfortante saber que seu acento flutua. Logo após isso, pela primeira vez ele falou, o piloto, desejou uma boa tarde e disse que a torre havia dado permissão para decolar, imaginei nele um grande sorriso suicida de orelha a orelha enquanto proferia aquelas palavras.
Então algo fantástico aconteceu, o avião se moveu com uma velocidade incrível, a inércia me jogou contra o acento e me prendeu lá. Então um sorriso de criança possuiu meus lábios. As rodas deixaram o chão rapidamente, a sensação era maravilhosa, nunca havia experimentado nada parecido com aquilo, meu sorriso só crescia e meu coração batia ainda mais rápido, porém agora com uma felicidade e prazer sem par. Virei-me sem pudor algum na direção da janela ostentando o sorriso mais bobo que um ser humano pode produzir e admirava o espetáculo do chão ficando cada vez mais distante. Quanto mais o avião se elevava mais feliz eu ficava, voltei à infância. Nu e despreparado vivendo algo inteiramente novo, toda minha ciência e filosofia ficaram para trás, física, química aerodinâmica e toda a racionalidade naquele momento parecia uma tolice, eu não era um homem encarando um fenômeno explicável de mil maneiras, eu era uma criança alada que por pura mágica decidiu brincar nas nuvens.
A sensação de me elevar era extraordinária, enquanto admirava cada segundo pela pequena e oval abertura de vidro, percebo uma fina fumaça branca aparecer pela janela, no inicio muito tímida e escassa, mas logo tomou conta de tudo e só havia uma fantástica cegueira branca. Sim... Eu estava dentro de uma nuvem, não pude deixar de viajar no tempo, a bons anos quando eu olhava o céu e imaginava formas e histórias fantásticas nas nuvens. Agora estava eu aqui em meio a elas voando numa velocidade descomunal por entre elas, um poderoso deus das tempestades acariciando seu rebanho.
Ao subir mais, deixei minhas singelas amigas brancas e vislumbrei a visão mais onírica que já tive, acima das nuvens observei o poente jogando seus raios sobre as nuvens, um glorioso tapete de ouro tomou tudo que meus olhos conseguiam ver, e no final da tapeçaria celeste Hélios, velho e poderoso, resplandecia com toda sua glória.
A mulher sentada na janela não deve ter gostado muito de ser banhada pela fulgura do velho astro, fechou implacavelmente a janela. Ajeitei-me na poltrona, recostei minha cabeça e fechei meus olhos, ainda ostentando meu singelo sorriso infantil.  Neste momento o avião começava a chacoalhar, talvez alguns achem que foi turbulência... Entre o barulho das potentes turbinas eu conseguia ouvir as imponentes vozes de todos os deuses do vento, se enroscavam na carcaça de metal, dançava, gargalhavam e bradavam “vejam irmãos, um pássaro deu seu primeiro vôo!”.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Pequenas Ironias




Havia uma militante comunista, moça brava e fervorosa. Uma amiga hacker lhe ofereceu um presente, o que desejasse teria de graça, alguém que era só um numero para elas pagaria a conta. Algum proletário não vai alimentar seus filhos este mês para que uma comunista tenha um novo iphone.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Jair Bolsonaro, a face de uma nação.




                                                                        Jair Bolsonaro


            Bem vindos senhoras e senhores ao país sem preconceitos, onde acontecem as mais belas e alegres paradas gays do mundo. Onde os bons homens de família cumprimentam os homossexuais na rua, conversam, até vão as mesmas festas. Mas expulsam o filho de casa se ele decide ir pra cama com alguém do mesmo gênero, afinal é melhor ter filho ladrão que veado.

            Bem vindos senhoras e senhores ao país sem preconceitos, o grande país da miscigenação. Onde as adoradas garotas da alta sociedade são gentis e sorridentes com seus colegas afros-descendentes, mas preferem serem empaladas por um ralador de aço inox a fazer amor com um negro.

            Bem vindos senhoras e senhores ao país sem preconceitos, um país de dimensões continentais onde o regionalismo pariu culturas singulares e belas. Em que as ricas famílias de São Paulo tratam bem os nordestinos que limpam suas privadas e atendem suas portarias, mas coitadas de suas filhas se levarem um para casa...

            Bem vindos senhoras e senhores ao país sem preconceitos, um pais que deu origem a novas religiões, que abriga incontáveis credos e todos se tratam com respeito e sem rivalidade. Bem... exceto os macumbeiros, por que todos sabem que esses negros estão cultuando o capeta, ou os espíritas, porque isso de falar com os mortos é coisa do diabo, ou os ateus, imagina, não acreditar no senhor deus! Devem ter o coisa-ruim no corpo.

            O jeito tupiniquim é o jeito mais vil de ter preconceito, um jeito sutil, falso, um preconceito de sorrisos e tapinha nas costas. Onde a vitima mal consegue perceber que está sofrendo preconceito, um preconceito que permite aos preconceituosos dormir a noite e orar ao seu deus se sentindo pessoas boas e imaculadas.

            O deputado Federal Jair Bolsonaro só é a draga que traz o lodo putrefato que impregna a sociedade à tona. Ele é o espelho que mostra as chagas no rosto desfigurado de uma sociedade que se ilude atrás de uma linda máscara. Ele incomoda, sim. Por perturbar a superfície límpida e cristalina do lago, por fazer cair a máscara. Quem consegue dormir sabendo que há um maldito Hitler dentro de si? Quem vai orar e se sentir amado por um deus sabendo que seu peito é lar de um ódio rançoso e fétido.

            Ele é a face oculta do povo Brasileiro, racista, homofobico, xenofobico, que acha que há um deus aprovando todos os seus atos doentes, e que justiça é feita à base de um punho de ferro e de uma bala.

            Senhoras e senhores olhem bem para essa face, ela representa uma nação. E não importa o quanto se tente enganar, o quanto se tente sorrir, quantos se dê tapinhas nas costas, quantos “amigos” se tenha, a verdade é que dentro da esmagadora maioria dos brasileiros dorme um Jair Bolsonaro.



Conheça um pouco mais de Jair Bolsonaro:


http://mtv.uol.com.br/memo/deputado-jair-bolsonaro-distribui-cartilha-antigay-em-escolas-do-rj

leia também: http://dominiomagnovolts.blogspot.com/2011/05/reinado-sombrio-atos-fascistasagora-em.html



quarta-feira, 23 de março de 2011

Ensaios sobre o amor - parte III

        Essa cronica que segue, chama-se, "Analfabetos do Amor" ainda lembro-me da primeira vez que ouvi essa cronica, isso mesmo ouvi... foi especial, tive uma epifania maior que muitos leiores fervorosos de livros sagrados. Bem espero que seja tão agradavél/ útil quanto foi para mim. E assim encerrarei minha madrugada, hoje acordarei muito cedo e será um dia decisivo.

Até a Proxima

Lawyer










Analfabetos do amor


1. Amigos, temos uma vastíssima experiência amorosa. A história do coração humano começou, precisamente, em Adão e Eva. Era o primeiro casal de terra e com uma vantagem considerável: - Não tinha parentes, não tinha vizinhos, não tinha fornecedores. Alguém poderia objetar (talvez com razão) que a serpente fazia as vezes de sogra, de cunhada, de amiga etc.

2. Mas o que eu queria dizer é o óbvio ululante, ou seja: - Com Adão e Eva houve o primeiro flerte, o primeiro namoro, o primeiro casamento. Eu ia acrescentar - e a primeira infidelidade. Mas trair com quem? Quero crer que Eva foi, talvez contrafeita, uma mulher rigorosamente fiel. Eu imagino o que teria sido, num confortável paraíso, a noite de núpcias do primeiro casal.

3. Pois bem. Isso ocorreu há muito tempo. Eu vos digo: essa experiência amorosa, que vem através dos milênios, não nos adianta de nada, nem nos abriu os olhos. O homem, que sabe de tudo, nada sabe de amor. Eu diria, se me permitem, que em amor o homem é tão analfabeto como um pássaro. Ou melhor: o pássaro tem, a seu favor, a vantagem do instinto puro, livre e clarividente. Ao passo que cada um de nós carrega, nas costas, não sei quantos preconceitos, não sei quantos equívocos. Eis a verdade: Falta-nos a espontaneidade de uma cambaxirra. E vou mais longe - o nosso amor é triste.

4. Olhem em torno. Vejam os namorados que conhecemos. Eles amam sem alegria, sim, todo o mundo ama sem alegria. Essa tristeza, inerente ao sentimento amoroso, decorre de que não sabemos amar. O homem mais sensível e lúcido é, diante do ser amado, um incerto ou, pior do que isso, um inepto. Ele não sabe o que dizer, o que fazer, o que pensar. O que nós chamamos "romance" é a soma de erros, de equívocos engraçadíssimos. Vejam: - não encontramos palavra justa, exata, perfeita; não nos ocorre o galanteio que o ser amado desejaria escutar.

5. E, no entanto, a partir de Adão e Eva, o homem já teve bastante tempo para aprender como gostar, como amar. O amor exige, entre dois seres, uma linguagem própria, um idioma específico. Mas não usamos essa linguagem ou parecemos não entender esse idioma. As pessoas que menos entendem - como se falassem línguas diferentes - são as que se amam. Dir-se-ia que o amor, em vez de unir, separa. Cabe então a pergunta - por quê? É simples. Porque amamos errado, porque não sabemos amar.

6. A rigor, o momento mais doce do amor é o flerte. O flerte não dilacera, não envenena. Um simples olhar, de uma luz mais viva; um sorriso leve é quanto basta para que dois seres experimentem a esperança de uma comunhão docemente infinita. Mas o flerte - eu prefiro o flerte à paquera - o flerte é, normalmente, uma promessa que não se cumpre. Pois, em seguida, o namoro abre uma fase de perspectivas inquietantes. Fala-se em 'briga de namorados', tão comum e, eu diria mesmo, obrigatória. Mas não são os pequeninos atritos que marcam e vão, pouco a pouco, ferindo e destruindo o sentimento amoroso.

7. Se o homem soubesse amar não elevaria a voz nunca, jamais discutiria, jamais faria sofrer. Mas ele ainda não aprendeu nada. Dir-se-ia que cada amor é o primeiro e que os amorosos dos nossos dias são tão ingênuos, inexperientes, ineptos, como Adão e Eva. Ninguém, absolutamente, sabe amar. D. Juan havia de ser tão cândido como um namoradinho de subúrbio. Amigos, o amor é um eterno recomeçar. Cada novo amor é como se fosse o primeiro e o último. E é por isso que o homem há de sofrer sempre até o fim do mundo - porque sempre há de amar errado.

Ensaios sobre o amor - Parte II





          Bem, vou deixa-los com as duas cronicas que embalaram minha madrugada (elas e "Music of Madness - Stop Crying Your Heart Out" do Oasis)

          Esta primeira é a ultima cronica de Nelson Rodrigues, foi publicada no Folha se São Paulo junto com a materia de sua morte em 20 de dezembro de 1980, ela (ironicamente?) se chama "Amor que morre", espero que lhe agrade tanto quanto me agradou.




"1 - Amigos, estou batendo esta crônica e, ao mesmo tempo, ouvindo uma valsa linda, que o rádio do vizinho está tocando. Identifico a melodia. É uma valsa que não envelhece e que se chama 'Quando Morre o Amor'. Sempre a ouço com encanto e, mesmo, com uma certa mágoa. O que é bonito dói na gente. E só não concordo com o título. Nenhum amor tem, ao morrer, esta doçura evocativa, esta melancolia dilacerada. O título da valsa deveria ser: 'Quando o Amor Nasce'.

2 - Eis a verdade: o amor que morre não deixa nenhuma nostalgia, e eu diria mesmo, não deixa nada. Ou por outra: deixa o tédio. O que nos fica dos amores possuídos e passados é simplesmente o tédio, talvez o ressentimento, talvez o ódio. Abominamos o ex-ser amado. Intimamente, nós o acusamos de ter destruído o nosso sonho. E vamos e venhamos: que coisa atroz é o amor que deixou de sê-lo. Mas o que eu queria dizer é o seguinte: há um equívoco na valsinha nostálgica.

3 - Eu diria, ainda, que a morte de um amor é pior do que a morte pessoal e física. Só uma coisa espanta: que se possa sobreviver a um amor. Eu me lembro de um vizinho que tive, na minha adolescência. Era um rapaz igual a milhares, igual a milhões. De uma larga e irresistível simpatia humana. O seu 'bom-dia' não era polidez, mas amor. Pois bem, um dia, esse rapaz ama. Foi uma paixão de vizinhos. Aconteceu, então, o seguinte: ele entregou-se ao amor, pôs no amor a generosa totalidade do seu ser.

4 - Mas enquanto ele fazia um amor de ópera, com um certo halo de tragédia, a menina era superficial, uma frívola ou, como nós chamamos convencionalmente, 'uma cabecinha de vento'. Ela não sentia, no seu romance, o peso do sonho. Até que, uma tarde, na cidade, o rapaz a vê, de passagem, num táxi, com um homem casado. O que houve, nele, antes da dor, foi o espanto. Disse para si mesmo: 'Ela me trai. Eu sou traído". E o pior é que não sofria. Voltou para casa com a alma vazia de desespero. Essa impossibilidade de sofrer foi o mais duro dos castigos.

5 - Que faz o rapaz? Chega em casa, tranca-se. E, diante do espelho, mete uma bala na cabeça. A princípio, todos deduziram: 'Matou-se por amor.' Depois, entretanto, descobriram, em cima da mesinha, um bilhete. Lá estava escrito: 'Morro porque deixei de amar'
. A rua, um bairro ou a cidade sentiu, nessas palavras finais, uma espécie de canto da solidão infinita. Eis a verdade: quem experimenta o verdadeiro amor já não sabe viver sem ele.




6 - Cabe então a pergunta: pode-se saber quando um amor morre ou, por outra, quando um amor começa a morrer? Nem sempre são as grandes causas que liquidam o amor. Às vezes, ou quase sempre, o que decide é a soma de pequeninos motivos. Um incidente mínimo pode valer mais que um insulto grave, uma ofensa mortal. Por exemplo: um bate-boca. Eu vos digo que é no primeiro bate-boca que o sentimento amoroso começa a morrer.

7 - Contei, aqui mesmo, nesta coluna, o caso daqueles namorados da Tijuca (da Tijuca ou de Haddock Lobo, não me lembro bem). Era um amor de novela, de filme. 'Nasceram um para o outro', diziam. E era tal o agarramento que, certa vez, no cinema, o vaga-lume incidiu sobre eles a lanterna. Houve, ali, um pequeno escândalo, felizmente abafado. Mas como eu ia dizendo: todo mundo estava convencido de que nada alteraria aquele amor, assim na terra como no céu. Até que, uma tarde, ele tem uma pequenina impaciência com a bem-amada, e deixa escapar um 'não chateia'.

8 - parece pouco. E foi muito, foi tudo. Essa interjeição ordinária, essa expressão vil era uma mácula definitiva. Naquele justo momento, o amor aodeceu para morrer. Todos os fracassos matrimoniais vêm da soma - repito - da soma de todos os 'não chateia', de todos os 'não amole', que vamos largando pela vida. A mulher que é simplesmente chamada de 'chata' teria preferido uma ofensa mais grave e brutal.

9 - Eu sempre digo que não é na recepção do Itamarati que devemos ser perfeitos. Não. Devemos reservar o melhor de nós mesmos, de nossa delicadeza, de nossa cerimônia, de nosso charme, para a mais secreta intimidade do lar. É menos grave chamar de 'chato' um embaixador, um ministro, do que o namorado, a noiva, a esposa, o marido. Se respeitássemos o nosso amor, não seríamos tão solitários e tão malqueridos."

Ensaios sobre o amor - parte I




Bem estou aqui em uma noite sem conseguir dormir, ou melhor dizendo, estou em uma noite que simplesmente não quero dormir, estou cansadíssimo porém simplesmente o doce colo do travesseiro me causa certa aversão. Talvez o assunto que eu vá falar, fuja um pouco da proposta do blog, talvez não... não cheguei a uma conclusão sobre tal fato ainda.
Porém qual seria a graça de ter um blog senão puder vociferar minhas agruras no ciberespaço quando eu tiver vontade.
Estava a pensar na minha vida e em várias decisões que devo tomar, quando deparei-me com uma coisa que a um tempo me chamou a atenção, as duas ultimas crônicas de Nelson Rodrigues, antes de tomar conhecimento destes escritos, eu sempre me dividia entre achá-lo um gênio do comportamento humano ou achá-lo um reles escritor de contos eróticos... depois que li tais crônicas, desisti de tentar classificá-lo.
Amor... o amor... agora divagando sobre ele nesta fatídica madrugada, uma cena de minha vida vem fortemente de minhas lembranças semi-esquecidas. Uma vez a muitos anos, no auge de minha mocidade, tive em meus braços uma garota, cujo nome eu realmente esforço-me para poder lembrar, cujas feições já são amareladas e esfumaçadas pelo tempo, não lembro de nada do toque de seus lábios, seu cheiro ou coisa parecida, minha pobre donzela seria categoricamente esquecida - não por maldade de minha parte, apenas todos apagamos pessoas que passam rápido - porém algo fez com que esta ganhasse destaque especial em minha mente e no auge de uma madrugada. Minha adorável companhia tinha um namorado de muitos anos, lembro de brincar com a aliança que ela trazia na mão direita, rodando-a em seu dedo. Era coisa bonita, parecia ser ouro, o tipo que um cara junta grana por muito tempo ou dá todo o salário para comprar, aquelas do tipo prova de amor. Não trazia qualquer maldade no peito ao brincar com a prova de amor de outro enquanto tinha sua garota em meus braços, fazia isso com a inocência de uma criança que encontra algo que lhe chama atenção.
Algo mais de minha efêmera companheira ficou, lembro-me que enquanto nos enrroscávamos com o ardor dos jovens seu namorado ligou. Mais uma vez assisti a cena impassível, enquanto meu caro amigo traído falava com sua amada, sem saber que agarrado a ela eu estava. Apoiado com o queixo sobre o ombro da moça eu estava alienado da conversa que se passava, e sem fazer qualquer juízo de moral da cena. Até que um par de palavras me trouxera até o chão, tão rápido quanto um raio descende das alturas, me vi ali jogado naquela cena... acho que “minha ficha caiu”.
O degenerado par de palavras que a pobre moça disse, o par de palavras que me causou tanta consternação, foi a despedida com um singelo “te amo”. Em uma fração de segundos tudo mudou. Não me entenda mal, não achei a cena imoral, tanto que após o termino da ligação continuamos sentados, aproveitando um momento de descontração juvenil. Apenas eu era muito jovem, e sempre fui demasiadamente romântico, achava que aquelas palavras eram sagradas, como uma reza que só os santos poderiam proferir, um “eu te amo” seria um trio de palavras indizível de forma leviana. Eu nunca as dissera.
Isso me fez pensar, quantas de minhas amadas proferiram suas declarações mais fortes, tendo outro em sua mente, seu coração... seus braços. Sem duvida um pensamento paranóico e que só levará a loucura ou a solidão, ou o mais provável, a ambos. Felizmente é um pensamento que não alimento, acredito que por puro censo cientifico de ignorar tudo que é impossível saber.
Porém agora, nesta madrugada mal dormida, esse pensamento me veio, quantos “eu te amo” levianos eu recebi? Quantas provas de amor eram falsas? Quantas promessas nunca tiveram real intenção de se concretizar?
Não sei que motivos me levaram aos braços da moça comprometida, e sem duvida não me vanglorio por eles, tampouco me alegra o fato de ter colaborado para a traição de uma alma que ouvia juras de amor pelo telefone, lembro-me de ter pensado muito no sujeito e de quão triste era para ele aquela situação, mesmo que de nada o pobre soubesse.
Como se diferencia um amor de um não-amor? O que é de fato “o amor” ? Quando tento parar para pensar, me sinto tão perdido quanto os amantes das crônicas de Nelson Rodrigues.
Nunca saberei de fato quais eram as intenções da moça ao dizer que amava o coitado traído, nunca saberei se ela apenas por sadismo, vaidade ou comodidade o enganava, ou quem sabe em sua visão ela o amasse, e eu era apenas uma diversão vespertina.



sexta-feira, 18 de março de 2011

Etnocentrismo e Preconceito

            Antes que a primeira feminista torne a mim o alvo de apedrejamentos, gostaria de dizer, que a questão da diferença de tratamento entre homens e mulheres NÃO é a questão aqui abordada, e apenas porque me manifestei de forma diferente do senso comum, não quer de forma alguma dizer que eu apóie qualquer tipo de sexismo! E eu abomino a pena de morte. Dito isto, podemos começar...

Há alguns meses, o mundo se viu inundado de manchetes a respeito da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani (caso que na verdade se desenrola desde 2006), a iraniana em questão foi condenada por adultério e por conspiração no assassinato de seu marido, a segunda acusação foi aparentemente ignorada pela maioria dos jornais. ¹ Por tais acusações ela seria apedrejada até a morte.
                                                            


                                                         Sakineh Mohammadi Ashtiani
           


            O que se falou em todo o mundo ocidental foi basicamente que era uma barbárie, uma atrocidade, uma punição cruel e desumana. Bem, ai que entra pesadamente o etnocentrismo.²

            Embora cosmologicamente falando nosso planeta não seja dos maiores, é surpreendente ver como um povo com meio corpo astral de distância pode se organizar de forma completemente diferente. A grosso modo, o planeta esta dividido em uma cultura ocidental e uma cultura oriental.³ A cultura ocidental prima pelo individualismo, enquanto os orientais prezam a coletividade.

            Vamos ver isso em um exemplo, suponha que você esteja num ônibus no rio de janeiro, quando então entra um "mano" ouvindo funk no ultimo volume do celular, ou em sampa um "nóia" ouvindo pagode... [coloque aqui o estereótipo babaca e preconceituoso que cabe em seu estado], suponhamos que você tenha uma profunda aversão pela musica do sujeito, então, o que leva uma pessoa obrigar a tantos ouvirem a musica que ele quer? Simples, porque o transporte é coletivo, logo não pertence a ninguém!

            Agora suponhamos que você vai conhecer o Japão, e decide andar no metrô, verá muitas pessoas mandando sms’s mas muito, muito, muito dificilmente alguém falando no celular. Por que? Porque o transporte é coletivo, logo pertence a todos! Se pertence a todos, você respeita os cidadãos ao seu lado, não forçando-os a ouvir você reclamando com sua mulher o quanto você está atrasado para o trabalho, em resposta eles respeitam você e não te fazem ouvir os problemas e felicidades pessoais deles.

            Eu tento manter o blog imparcial... mas pense, qual das formas lhe parece mais civilizada?

            Então, entendendo essa sutil diferença de pensamento, vamos entender porque adultério é tão sério do outro lado do mundo, e aqui é visto só como um desvio leve. Simples, porque, família e bem estar coletivo são colocados acima do bem estar pessoal. Se o adultério destrói famílias, logo, o individuo (homem ou mulher) que o comete colocou seu prazer acima da unidade de uma ou mais famílias, prejudicou cônjuges, filhos, pais e mães. Bem, acho que pouca gente refletiu sobre isso antes de achar um absurdo o adultério ser crime em alguns lugares...

            Agora, sobre a pena de morte, a pena capital que pode ser aplicada neste caso é o apedrejamento, um método muito antigo de punição, descrito inclusive na bíblia. Descreverei de forma simplificada, a pessoa é enrolada em um lençol, e enterrada, se for mulher até a altura dos ombros se for homem até a cintura, então um bando de pessoas presentes começam a atirar pedras até que a pessoa que sofre a punição morra, um método cruel? Sem duvidas.

Mulher momentos antes de receber o apedrejamento


            Imagine agora seguinte cena, após aguardar por anos com a data da sua morte já estabelecida, um condenado tem a cabeça raspada e nele são colocado fraldas geriátricas, é posto sentado em uma cadeira, uma esponja molhada em água salgada é colocada sobre sua cabeça, um capacete contedo um eletrodo é colocado sobre a cabeça do condenado. É posto um capuz para que a platéia não veja o extremo sofrimento do condenado. A corrente elétrica é ligada, uma descarga de 2 300 volts, com o choque os músculos do rosto se contraem, os olhos saltam das órbitas, nariz e ouvidos sangram, ele se defeca e urina. Despois desta primeira sessão, segue-se mais uma descarga de 1 000 volts por 22 segundos e, por fim, uma de 2 300 volts por mais oito segundos.
                                                        você sabe que cena é essa 

            Esta forma de execução parece-lhe de alguma forma “humana”?  pois mais de 4500 pessoas foram desta forma assassinadas nos Estados Unidos da América, e nunca houve nenhuma manifestação global em massa contra.

            Acredito que agora possamos realmente refletir sobre o tema proposto, etnocentrismo, a Europa, tem dado um triste espetáculo, proibindo o véu islâmico em seus territórios, julgaram o cristianismo ocidental como conduta correta, o capitalismo como sistema correto, e aparentemente toda e qualquer cultura que tente sair deste padrão será alvo de retaliação e jogada a latrina da opinião publica. Até a Carla Bruni transformou por meio de uma carta, o caso do fatídico julgamento, como se fosse uma cruzada do governo iraniano contra todas as mulheres, bem discordo totalmente da resposta iraniana... mesmo que a senhora Bruni tenha envergonhado seu marido e toda a França por tabela com um ou outro episodio sexual...

            A questão é: até que pondo uma cultura tem o direito de julgar outra segundo seus próprios valores?  No Brasil o massacre de índios recém-nascidos é totalmente ignorado pela lei, sim, nenhum policial pode prender um índio por matar um filho rejeitado, índios são considerados inimputáveis perante nossas leis quando realizam suas atividades culturais, logo um índio que mate seu filho esta agindo de acordo com sua cultura. Certo ou errado? Segundo algumas tribos, uma pessoa deve ser auto-suficiente, então se um bebê nasce com alguma deformidade, fraco demais, ou com qualquer coisa que impossibilite que ele seja um membro normal da sua tribo ele será sacrificado. É uma forma de ver o mundo, e organizar sua sociedade, sem juízos de valor que possamos ter. É uma das poucas coisas que realmente posso me orgulhar em nossa legislação.

            Acho que já escrevi demais, peço perdão se o assunto “rendeu” além das minhas expectativas, só gostaria de deixar essa questão de tentar para um pouco de julgar o mundo apenas sob uma ótica sendo que neste pequeno pedaço de roça que habitamos existem tantos outros modos de ver a mesma questão. E não há no mundo quem possa dizer qual cultura é superior, e se achar alguem que se atreva, pode ter certeza, ali fala um grande idiota.


Até o próximo caso.

Lawyer

           




¹ Mais uma vez, não é mérito do blog e desse post julgar a eficácia dos tribunais iranianos, ISTO É ASSUNTO INTERNO DE UM PAÍS. Trocando em miúdos, você gostaria que as autoridades norueguesas viessem intervir na violência policial brasileira? Ou que diplomatas belgas fechassem Brasília devido à corrupção? Em suma, cada país cuida de seus próprios problemas, se o povo esta insatisfeito que locomova suas nádegas para mudar a situação.

²Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou avaliação que um indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social diferente do seu é apenas baseada nos valores, referências e padrões adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo fazem parte.
Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita a partir de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro. Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.
Fonte: wikipedia
³ Obviamente existem varias exceções a este modo de colocar as coisas, mas eu disse “a grosso modo”, não disse?!