sexta-feira, 18 de março de 2011

Etnocentrismo e Preconceito

            Antes que a primeira feminista torne a mim o alvo de apedrejamentos, gostaria de dizer, que a questão da diferença de tratamento entre homens e mulheres NÃO é a questão aqui abordada, e apenas porque me manifestei de forma diferente do senso comum, não quer de forma alguma dizer que eu apóie qualquer tipo de sexismo! E eu abomino a pena de morte. Dito isto, podemos começar...

Há alguns meses, o mundo se viu inundado de manchetes a respeito da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani (caso que na verdade se desenrola desde 2006), a iraniana em questão foi condenada por adultério e por conspiração no assassinato de seu marido, a segunda acusação foi aparentemente ignorada pela maioria dos jornais. ¹ Por tais acusações ela seria apedrejada até a morte.
                                                            


                                                         Sakineh Mohammadi Ashtiani
           


            O que se falou em todo o mundo ocidental foi basicamente que era uma barbárie, uma atrocidade, uma punição cruel e desumana. Bem, ai que entra pesadamente o etnocentrismo.²

            Embora cosmologicamente falando nosso planeta não seja dos maiores, é surpreendente ver como um povo com meio corpo astral de distância pode se organizar de forma completemente diferente. A grosso modo, o planeta esta dividido em uma cultura ocidental e uma cultura oriental.³ A cultura ocidental prima pelo individualismo, enquanto os orientais prezam a coletividade.

            Vamos ver isso em um exemplo, suponha que você esteja num ônibus no rio de janeiro, quando então entra um "mano" ouvindo funk no ultimo volume do celular, ou em sampa um "nóia" ouvindo pagode... [coloque aqui o estereótipo babaca e preconceituoso que cabe em seu estado], suponhamos que você tenha uma profunda aversão pela musica do sujeito, então, o que leva uma pessoa obrigar a tantos ouvirem a musica que ele quer? Simples, porque o transporte é coletivo, logo não pertence a ninguém!

            Agora suponhamos que você vai conhecer o Japão, e decide andar no metrô, verá muitas pessoas mandando sms’s mas muito, muito, muito dificilmente alguém falando no celular. Por que? Porque o transporte é coletivo, logo pertence a todos! Se pertence a todos, você respeita os cidadãos ao seu lado, não forçando-os a ouvir você reclamando com sua mulher o quanto você está atrasado para o trabalho, em resposta eles respeitam você e não te fazem ouvir os problemas e felicidades pessoais deles.

            Eu tento manter o blog imparcial... mas pense, qual das formas lhe parece mais civilizada?

            Então, entendendo essa sutil diferença de pensamento, vamos entender porque adultério é tão sério do outro lado do mundo, e aqui é visto só como um desvio leve. Simples, porque, família e bem estar coletivo são colocados acima do bem estar pessoal. Se o adultério destrói famílias, logo, o individuo (homem ou mulher) que o comete colocou seu prazer acima da unidade de uma ou mais famílias, prejudicou cônjuges, filhos, pais e mães. Bem, acho que pouca gente refletiu sobre isso antes de achar um absurdo o adultério ser crime em alguns lugares...

            Agora, sobre a pena de morte, a pena capital que pode ser aplicada neste caso é o apedrejamento, um método muito antigo de punição, descrito inclusive na bíblia. Descreverei de forma simplificada, a pessoa é enrolada em um lençol, e enterrada, se for mulher até a altura dos ombros se for homem até a cintura, então um bando de pessoas presentes começam a atirar pedras até que a pessoa que sofre a punição morra, um método cruel? Sem duvidas.

Mulher momentos antes de receber o apedrejamento


            Imagine agora seguinte cena, após aguardar por anos com a data da sua morte já estabelecida, um condenado tem a cabeça raspada e nele são colocado fraldas geriátricas, é posto sentado em uma cadeira, uma esponja molhada em água salgada é colocada sobre sua cabeça, um capacete contedo um eletrodo é colocado sobre a cabeça do condenado. É posto um capuz para que a platéia não veja o extremo sofrimento do condenado. A corrente elétrica é ligada, uma descarga de 2 300 volts, com o choque os músculos do rosto se contraem, os olhos saltam das órbitas, nariz e ouvidos sangram, ele se defeca e urina. Despois desta primeira sessão, segue-se mais uma descarga de 1 000 volts por 22 segundos e, por fim, uma de 2 300 volts por mais oito segundos.
                                                        você sabe que cena é essa 

            Esta forma de execução parece-lhe de alguma forma “humana”?  pois mais de 4500 pessoas foram desta forma assassinadas nos Estados Unidos da América, e nunca houve nenhuma manifestação global em massa contra.

            Acredito que agora possamos realmente refletir sobre o tema proposto, etnocentrismo, a Europa, tem dado um triste espetáculo, proibindo o véu islâmico em seus territórios, julgaram o cristianismo ocidental como conduta correta, o capitalismo como sistema correto, e aparentemente toda e qualquer cultura que tente sair deste padrão será alvo de retaliação e jogada a latrina da opinião publica. Até a Carla Bruni transformou por meio de uma carta, o caso do fatídico julgamento, como se fosse uma cruzada do governo iraniano contra todas as mulheres, bem discordo totalmente da resposta iraniana... mesmo que a senhora Bruni tenha envergonhado seu marido e toda a França por tabela com um ou outro episodio sexual...

            A questão é: até que pondo uma cultura tem o direito de julgar outra segundo seus próprios valores?  No Brasil o massacre de índios recém-nascidos é totalmente ignorado pela lei, sim, nenhum policial pode prender um índio por matar um filho rejeitado, índios são considerados inimputáveis perante nossas leis quando realizam suas atividades culturais, logo um índio que mate seu filho esta agindo de acordo com sua cultura. Certo ou errado? Segundo algumas tribos, uma pessoa deve ser auto-suficiente, então se um bebê nasce com alguma deformidade, fraco demais, ou com qualquer coisa que impossibilite que ele seja um membro normal da sua tribo ele será sacrificado. É uma forma de ver o mundo, e organizar sua sociedade, sem juízos de valor que possamos ter. É uma das poucas coisas que realmente posso me orgulhar em nossa legislação.

            Acho que já escrevi demais, peço perdão se o assunto “rendeu” além das minhas expectativas, só gostaria de deixar essa questão de tentar para um pouco de julgar o mundo apenas sob uma ótica sendo que neste pequeno pedaço de roça que habitamos existem tantos outros modos de ver a mesma questão. E não há no mundo quem possa dizer qual cultura é superior, e se achar alguem que se atreva, pode ter certeza, ali fala um grande idiota.


Até o próximo caso.

Lawyer

           




¹ Mais uma vez, não é mérito do blog e desse post julgar a eficácia dos tribunais iranianos, ISTO É ASSUNTO INTERNO DE UM PAÍS. Trocando em miúdos, você gostaria que as autoridades norueguesas viessem intervir na violência policial brasileira? Ou que diplomatas belgas fechassem Brasília devido à corrupção? Em suma, cada país cuida de seus próprios problemas, se o povo esta insatisfeito que locomova suas nádegas para mudar a situação.

²Etnocentrismo é um conceito antropológico, segundo o qual a visão ou avaliação que um indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social diferente do seu é apenas baseada nos valores, referências e padrões adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo fazem parte.
Essa avaliação é, por definição, preconceituosa, feita a partir de um ponto de vista específico. Basicamente, encontramos em tal posicionamento um grupo étnico considerar-se como superior a outro. Do ponto de vista intelectual, etnocentrismo é a dificuldade de pensar a diferença, de ver o mundo com os olhos dos outros.
Fonte: wikipedia
³ Obviamente existem varias exceções a este modo de colocar as coisas, mas eu disse “a grosso modo”, não disse?!

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