quarta-feira, 23 de março de 2011

Ensaios sobre o amor - parte I




Bem estou aqui em uma noite sem conseguir dormir, ou melhor dizendo, estou em uma noite que simplesmente não quero dormir, estou cansadíssimo porém simplesmente o doce colo do travesseiro me causa certa aversão. Talvez o assunto que eu vá falar, fuja um pouco da proposta do blog, talvez não... não cheguei a uma conclusão sobre tal fato ainda.
Porém qual seria a graça de ter um blog senão puder vociferar minhas agruras no ciberespaço quando eu tiver vontade.
Estava a pensar na minha vida e em várias decisões que devo tomar, quando deparei-me com uma coisa que a um tempo me chamou a atenção, as duas ultimas crônicas de Nelson Rodrigues, antes de tomar conhecimento destes escritos, eu sempre me dividia entre achá-lo um gênio do comportamento humano ou achá-lo um reles escritor de contos eróticos... depois que li tais crônicas, desisti de tentar classificá-lo.
Amor... o amor... agora divagando sobre ele nesta fatídica madrugada, uma cena de minha vida vem fortemente de minhas lembranças semi-esquecidas. Uma vez a muitos anos, no auge de minha mocidade, tive em meus braços uma garota, cujo nome eu realmente esforço-me para poder lembrar, cujas feições já são amareladas e esfumaçadas pelo tempo, não lembro de nada do toque de seus lábios, seu cheiro ou coisa parecida, minha pobre donzela seria categoricamente esquecida - não por maldade de minha parte, apenas todos apagamos pessoas que passam rápido - porém algo fez com que esta ganhasse destaque especial em minha mente e no auge de uma madrugada. Minha adorável companhia tinha um namorado de muitos anos, lembro de brincar com a aliança que ela trazia na mão direita, rodando-a em seu dedo. Era coisa bonita, parecia ser ouro, o tipo que um cara junta grana por muito tempo ou dá todo o salário para comprar, aquelas do tipo prova de amor. Não trazia qualquer maldade no peito ao brincar com a prova de amor de outro enquanto tinha sua garota em meus braços, fazia isso com a inocência de uma criança que encontra algo que lhe chama atenção.
Algo mais de minha efêmera companheira ficou, lembro-me que enquanto nos enrroscávamos com o ardor dos jovens seu namorado ligou. Mais uma vez assisti a cena impassível, enquanto meu caro amigo traído falava com sua amada, sem saber que agarrado a ela eu estava. Apoiado com o queixo sobre o ombro da moça eu estava alienado da conversa que se passava, e sem fazer qualquer juízo de moral da cena. Até que um par de palavras me trouxera até o chão, tão rápido quanto um raio descende das alturas, me vi ali jogado naquela cena... acho que “minha ficha caiu”.
O degenerado par de palavras que a pobre moça disse, o par de palavras que me causou tanta consternação, foi a despedida com um singelo “te amo”. Em uma fração de segundos tudo mudou. Não me entenda mal, não achei a cena imoral, tanto que após o termino da ligação continuamos sentados, aproveitando um momento de descontração juvenil. Apenas eu era muito jovem, e sempre fui demasiadamente romântico, achava que aquelas palavras eram sagradas, como uma reza que só os santos poderiam proferir, um “eu te amo” seria um trio de palavras indizível de forma leviana. Eu nunca as dissera.
Isso me fez pensar, quantas de minhas amadas proferiram suas declarações mais fortes, tendo outro em sua mente, seu coração... seus braços. Sem duvida um pensamento paranóico e que só levará a loucura ou a solidão, ou o mais provável, a ambos. Felizmente é um pensamento que não alimento, acredito que por puro censo cientifico de ignorar tudo que é impossível saber.
Porém agora, nesta madrugada mal dormida, esse pensamento me veio, quantos “eu te amo” levianos eu recebi? Quantas provas de amor eram falsas? Quantas promessas nunca tiveram real intenção de se concretizar?
Não sei que motivos me levaram aos braços da moça comprometida, e sem duvida não me vanglorio por eles, tampouco me alegra o fato de ter colaborado para a traição de uma alma que ouvia juras de amor pelo telefone, lembro-me de ter pensado muito no sujeito e de quão triste era para ele aquela situação, mesmo que de nada o pobre soubesse.
Como se diferencia um amor de um não-amor? O que é de fato “o amor” ? Quando tento parar para pensar, me sinto tão perdido quanto os amantes das crônicas de Nelson Rodrigues.
Nunca saberei de fato quais eram as intenções da moça ao dizer que amava o coitado traído, nunca saberei se ela apenas por sadismo, vaidade ou comodidade o enganava, ou quem sabe em sua visão ela o amasse, e eu era apenas uma diversão vespertina.



Um comentário:

  1. Poxa amigo a verdade de suas palavras as engrandeceram ao ponto de Nelson!! A inocência e paixão das mesmas me fizeram soltar um "hommmmm" sincero. Mas a resposta que procuras no eter vagando no universo de nossas mentes!

    Continue escrevendo...
    Quizera eu ter esse dom! rsrs
    Parabéns!!

    bjo Ivie

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